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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Tempo, tempo, tempo, tempo

  O tempo passa, e essa é uma verdade indiscutível e, algumas vezes, muito cruel.
No fim de semana, a avó de meu marido, hoje minha também, chegou para a temporada anual que passa na casa de sua mãe, minha sogra. Estamos juntos há doze anos e ela é a senhora mais linda e elegante que já conheci. Muito ativa, fazia trabalhos artesanais por hobby e para complementar a aposentadoria do marido, de quem ficou viúva muitos anos atrás, além de cozinhar divinamente. Na juventude, costurava para a alta-sociedade da cidade em que moravam, no interior de São Paulo, especializando-se em moda infantil.

  De tudo, ela conserva a elegância. Mas a memória, essa aparece, em lampejos, e se vai. Ela foi diagnosticada com Alzeihmer há alguns anos (embora eu acredite que seu quadro se parece muito mais com uma espécie de demência senil). Pois, neste fim de semana, estávamos eu, ela e minha linda filha, de três anos e meio, comendo bolo. A pequena ameaçou me pedir ajuda, mas percebeu que a bisavó não conseguiria comer sozinha.

  Foi então que deu-se o encanto: ela nos olhava, a mim e à bisavó, a quem eu ajudava, e se esforçava pra comer sozinha, sem dar uma palavra, Sorrindo, delicada, encantadora,E ela comeu. Tudo. Sozinha. Espero não esquecer de seu olhar, me vendo ajudar a bisa, como se dissesse "Não se preocupe comigo, vou te ajudar também". Ela me olhava com o carinho e o orgulho com que eu costumo olhar pra ela. E foi bom, muito bom! E eu digo espero, esclareço, porque sei que minha avó, se pudesse, guardaria na memória cada momento importante, com cada filho (são três dela, outros dois do primeiro casamento do marido), cada neto (são sete, fora os postiços, como eu), cada bisneto (são quatro).

  Minha moça, essa menininha incrível chamada Isabella. Que more pra sempre em minha memória e meu coração!

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Surrealismos de mãe

Você sabe que o tempo está passando rápido demais quando briga com a criatura, recém-saída das fraldas e ela responde:"Mãe, me deixa..." (???!!!)

  Ainda chocada, você argumenta, já se indignando: "Como, me deixa?". E a belezinha de dois anos e meio responde docemente e com a maior naturalidade "Me deixa, mamãe, em paz".

  Se a angústia por descobrir onde raios terá ouvido "Me deixa em paz" for proporcional à de constatar que ser tão pequenino já tem tamanho ímpeto de rebeldia, você é do meu time.

P.S:Os adjetivos e advérbios não estão aí por acaso: o coice foi dado no coração da mãe com absoluta ternura...

E se eu disser que o cenário do diálogo foi o banco de trás de um táxi e que briguei porque o dedo indicador da criaturinha perigava cutucar o cérebro em busca da meleca perfeita, daí sim você entenderá o choque da pessoa aqui!

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Dormir nunca mais foi coisa simples II

  Foi difícil reaprender a dormir depois que minha filha nasceu.
  Posso dizer que, nas primeiras semanas de vida da Isabella, eu não dormi. Cochilei. Eu me revezava com meu marido, um vigiava seu sono enquanto o outro dormia. Com a luz acesa. E o carrinho ao lado da cama. Dois zumbis, eis o que éramos.
  Não, essa insanidade, essa loucura completa não começou do nada. Ainda na maternidade, a pequena teve seu primeiro engasgo. Sufocava bem ao meu lado, enquanto eu dormia. Surtei, acordei minha mãe, que ficou tão aflita que esqueceu que tinha parido três e saiu gritando por socorro pelo corredor. A enfermeira veio com cara de poucos amigos me dizer que eu não estava colocando minha filha para arrotar corretamente, que eu tinha que bater nas suas costas durante vinte minutos no mínimo, blablabá. Ótimo, ganhava ali minha segunda culpa (a primeira foi não ter conseguido trazê-la ao mundo pelas vias naturais, mas essa é outra história). Quase tinha matado minha filha porque estava com "preguiça" de  fazê-la arrotar.
Então, passei a marcar no relógio. Não importava se ela tinha dado um arroto giga nos primeiros dez minutos e estava praticamente dormindo, o processo todo passou a durar vinte minutos exatos, cronometrados.
  E foi então que ela quase sufocou uma segunda vez, em uma de nossas primeiras noites em casa. Sem enfermeira pra pedir socorro, sem avó parideira por perto. Em plena madrugada. Eu, que acabara de cochilar, abri meus olhos e vi minha bebê quase roxa ao meu lado, no carrinho.
  Me lembro pouco. Tentei eu desentalá-la, depois meu marido, depois eu de novo, não sei quem conseguiu (meu HD tem essa qualidade, processo as sensações e armazeno apenas o panorama geral, ele me poupa de rever a cena angustiante outras vezes). O fato é que conseguimos: de repente ela começou a chorar e, portanto, respirar. Como fazer para voltar a dormir?
  A adrenalina durou muitas horas, então ficamos algum tempo acordados, os dois. Mas a batida é puxada... os olhos pesam... a respiração vai ficando lenta, profunda... Enquanto conseguimos, mantivemos os turnos, mas claro que isso não durou muito. Até porque amamentar me consumia muita energia.  As sessões de arroto sempre foram do pai, então eu, além de não dormir enquanto amamentava, passei a azucrinar meu marido em sua função. Quem merece?
  Se toda mãe fosse informada, ainda na maternidade, que o bebê não é obrigado a arrotar após a mamada... que a maioria dos bebês amamentados ao seio não arrota, porque a entrada de ar é facilitada pela mamadeira... que os bebês devem ser mantidos na vertical independente de arrotarem porque seu sistema digestivo ainda está aprendendo a funcionar e pode haver refluxo, mesmo depois do maior arroto do mundo... que pode relaxar durante esses minutos, não precisam ficar batendo nas costas de seus pequenos... aliás, um que vê diz que você está batendo forte demais, o outro acha que você está batendo muito fraquinho... Mãe sofre! Pai também, aqui em casa era meu marido que ouvia os pitacos sobre o arroto, pra mim sobravam os relacionados ao leite materno... ah, que saudade!
  A verdade é que ninguém, eu disse ninguém, nem com todos os cursos, nem com o instinto mais apurado, ninguém está preparado pras primeiras noites (e quando eu digo noite estou englobando os dias que aparecem entre elas) com seu primeiro filho. Com o segundo não sei, pretendo descobrir um dia. ;-)
  Não se apavore comigo se você ainda não tem o seu pinguinho: a gente pega o jeito, e pega rápido. Na marra. Eles mostram rapidamente pra gente qual o ritmo da dança (isso mesmo, eles, não se engane). Mas a sensação de despreparo fica. A minha, pelo menos, me assombra sempre que alguma decisão importante tem que ser tomada. Embora eu tenha a plena convicção de que sou uma excelente mãe, sendo a melhor mãe que eu posso. 



domingo, 7 de setembro de 2014

Dormir nunca mais foi coisa simples I

   Desde que ela chegou, dormir tem sido um reaprendizado contínuo. Isabella é como eu: enquanto houver agito, ela está ligada. Quis respeitar seu ritmo, mas fui obrigada a reconhecer que a disciplina trazida por minha sogra depois que acabou minha licença-maternidade facilitou um bocado as coisas. 
  Isabella, até hoje, continua com duas sonecas diárias: uma é pela manhã, lá pras dez e meia. Ela acorda cedo, pelas sete, e não pára, tem muita energia. Então, quando vai chegando o meio da manhã, vai ficando chatinha...Hora da "nanadinha", como diz seu pai. A segunda é quando chega da escola: chega exausta, não oferece a menor resistência, por vezes chega a dormir ainda a caminho de casa.
  Mas, como eu disse, ela tem dificuldade para desacelerar... então, para que a "nanadinha" aconteça, toda a casa tem que entrar no ritmo.
  A princípio, achei que esse "entrar no ritmo" seria impor silêncio total, deitar com ela... é assim que rola a "nanadinha" na casa da avó. Mas não aqui em casa. Aqui não funciona. Aqui ela entra no ritmo sendo avisada: é tipo "Depois de fazer X, você vai dar sua nanadinha, tá bem?". Podem rolar alguns protestos, algum choro. Mas funciona. E, depois que descobri isso, muita coisa mudou na nossa rotina.
  Depois da experiência de sucesso com a "nanadinha", ela recebe avisos pra tudo. Se vou sair e ela não vai me acompanhar, aviso pouco antes. Se ela pede alguma coisa fora de hora para comer (e ela pede sempre) e se aproxima a hora do almoço, aviso que está quase na hora do papá. Se a brincadeira está no auge e está chegando a hora do banho, aviso. O aviso não elimina as crises de birra ansiedade, mas as diminui consideravelmente.
  O resultado é que nossas conversas diminuíram muito a tensão do dia-a-dia; ela, que é bem como eu, vem aprendendo a lidar com sua ansiedade, a respeitar as nossas decisões. Recomendo. A rotina, o mais que possível, a conversa, mesmo quando aparentemente não entendem, e a "nanadinha".
   

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A minha bella vida

  Foi  partir dela que tudo mudou: minhas prioridades, minhas inseguranças, minhas certezas... 
  Certezas?
  Tinha certeza de que seria um parto natural. Minha gravidez não permitiu. Tive pré-eclâmpsia, passei os últimos meses em repouso, medicada, com restrições alimentares. Sofrendo. Preocupada. Ansiosa. Aliás, a gravidez foi um capítulo à parte, que não conta: porque, parodiando Reis, o mundo está melhor desde que ela chegou, e é aí que quero focar.
  E ela chegou em abril de 2012. Tendo passado nossos últimos nove anos juntos, eu e seu pai não éramos mais dois. Depois das muitas incertezas e inseguranças que minha condição impôs durante a gravidez, ela chegou, perfeita, frágil, delicada.
  No primeiro mês, quase não dormia. Eu, e o pai dela também. Ela, muito pequenina, precisava mamar de três em três horas, embora não percebesse e insistisse em dormir muito mais que isso. E lá íamos nós, mexer nela, cantar pra ela, tirar a roupa... e ela lá, plácida, serena... 
  No segundo mês, as coisas foram entrando nos eixos. No terceiro, ela teve bronquiolite, e novas noites insones vieram. E, desde então, entendemos que essas noites insones serão esporádicas e que nunca nos habituaremos a elas.
  Ela teve um primeiro aninho tranquilo e feliz. Também não tenho queixas quanto ao segundo. Aliás, este sim é o ano de nossas vidas até agora: ela me mostra muito de sua personalidade, começa a fazer frases, já apresenta atitudes que me encantam e emocionam. 
  Ela faz ballet na escola e, do alto de seus dois anos e cinco meses, ela ensaia pela casa, dizendo "Plié, esticou", enquanto faz movimentos graciosos que remetem a passos de bailarina. Ela toma vitamina e fica com um delicioso bigodinho, o qual aponta orgulhosa pra dizer "Parece o vovô!". Ela canta músicas inteiras na sua língua particular, com ritmo e harmonia. Ela dá bom dia, boa tarde e boa noite (quase todos os dias, também tem seus dias de antipatia), diz obrigada, e pede "Com licença?" e "Por favor?". Ela grita "Nossa!", quando alguma coisa a espanta. Se se chateia, lá vem um "Poxa vida!". Ela não joga lixo no chão. Ela adora ir à praia e às casas das vovós. Ela troca chocolate por melancia. 
  Ela faz minha vida colorida, perfumada, doce e encantadora. Ela é a minha vida. A minha Bella vida!